sábado, 19 de janeiro de 2008

Repertório: A CANTORA CARECA

A CANTORA CARECA é uma das mais bem sucedidas produções do Laboratório Cênico.
Após excelentes temporadas nas cidades da região serrana do Estado do Rio de Janeiro e também no Teatro Noel Rosa da UERJ-Rio de Janeiro, sempre com casas cheias e grande receptividade por parte do público, o Laboratório Cênico participou com este espetáculo do Projeto Palco de Experimentação do Centro de Estudo Artístico Experimental, coordenado por Ana Kfouri, no SESC Tijuca, Rio de Janeiro.
A peça A CANTORA CARECA marcou a trajetória de Eugène Ionesco como um dos principais dramaturgos do Teatro do Absurdo.
Nos textos dos autores do absurdo não encontramos histórias, ao menos da forma como se espera uma história, com princípio, meio e fim. Nem temos também grandes conflitos; aparentemente nada acontece. Os personagens comunicam-se com dificuldade. Quase não falam ou falam excessivamente sem, no entanto, alcançar qualquer espécie de comunicação. Estão isolados num mundo que não compreendem, sem chances de fugir.

















A solidão humana. A angústia humana. O destino trágico e, muitas vezes, tragicômico da condição humana. O esvaziamento da linguagem e das possibilidades de encontro e entendimento. O caos. O nada.
Para os cronistas do absurdo, a linguagem, instrumento obsoleto e inútil, deixa de ter qualquer significado. Se o homem nada tem a dizer para seu companheiro de infortúnio, para que então a linguagem? O mundo é um mundo de sonâmbulos – e os sonâmbulos não se comunicam.
Quando Ionesco escreveu sobre o esvaziamento das palavras e a dissolução das relações humanas, ele se aproximou de alguns intelectuais que partilhavam das mesmas inquietações como, por exemplo, Arthur Adamov e Samuel Beckett, o festejado autor de “Esperando Godot”.






















EUGÈNE IONESCO
Ionesco nasceu em Slatina, Romênia, em 1912, e faleceu em Paris, em 1994. Filho de mãe francesa e pai romeno, adotou a França como pátria e para lá se mudou aos treze anos de idade, só retornando ao país de origem quando seus pais se separaram.
Nessa época, decidiu entrar para a Universidade de Bucareste, com o objetivo de se licenciar em francês.
Em 1936 conheceu Rodica Burileno, estudante de filosofia, com quem se casou. Dois anos mais tarde, mudou-se com a mulher para Paris, a fim de coletar material para sua tese. Mas em 1939 veio a guerra. E, em 1940, a França foi invadida pelos nazistas. A guerra desencadeou nele um processo de desesperança. Para ficar a salvo da invasão, o dramaturgo mudou-se então para o sul da França, onde nasceu sua filha.
Após a libertação, Ionesco voltou para Paris. Foi então trabalhar numa empresa de construção civil, onde ocupou um cargo administrativo. O salário era pouco compensador e, às voltas com um orçamento doméstico sempre deficitário, imaginou que sua situação melhoraria consideravelmente se aprendesse inglês. Lançou-se então ao aprendizado dessa “língua útil”, consumindo suas horas de lazer em manuais intermináveis.
Parando para pensar sobre a trivialidade desesperadora das frases dos manuais, concluiu que eram elas que compunham o cotidiano dos homens de seu tempo, os sobreviventes de uma guerra cruel.
Foi a partir delas que deu o primeiro passo em direção à dramaturgia: as divagações deram origem a um texto, “Inglês Sem Dor” (Anglais Sans Peine), que serviu de base para sua primeira peça teatral, “A Cantora Careca” (La Cantatrice Chauve, 1950).
Nesta peça, diálogos absurdos, geralmente de uma desesperante banalidade, constituem a fala dos personagens. E, entretanto, neste caos da gratuidade estranhamente familiar ou tranqüilamente estranho, alguma coisa nunca é gratuita: a visão do homem, da sua constante e intransponível solidão, do seu vazio metafísico.
Dessa surpreendente trivialidade, solenemente anunciada, nasceu a dramaturgia de um dos mais importantes autores do teatro do absurdo.

FICHA TÉCNICA

Texto – Eugène Ionesco
Tradução - Luis de Lima
Direção – Carlos Pimentel
Elenco – Célio Hottz, Cláudio Milhomem, Elaine Braga, Marco Moraes, Roberta Heggendorn e Tatiana Maduro
Projeto Gráfico – A. Silvério
Figurinos – Rui Cortes
Cenário – Carlos Pimentel
Iluminação – Rogério Wiltgen
Execução de Figurinos – Ivonilde Medeiros
Fotos – Daniel Marcus
Cabelos e Maquiagem – José Cláudio Braga
Produção – Laboratório Cênico

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu assisti a Cantora Careca no
SESC Tijuca, por recomendação de uma amiga.
Confesso que fiquei surpresa com a qualidade exibida.
Foi um belo exemplo de que não devemos submestimar um espetáculo apenas porque não conhecemos os Atores.
Telma Brígido Pio
Rio/RJ